Não desconsiderando V. Exas, sábados sem ensaios também sabem pela vida.
Entre outras coisas que fazem as pessoas normais, dão para:
a) rever pessoas "normais"(ao invés de teatreiros "endoudados";-)) e desmoer o calor com uns mergulhos;
b) reler Séneca (Da vida feliz) - sei que parece um bocado "pseudo", como alguns diriam, mas desde há dias que me tinha dado a urgência de ir buscar o livro à prateleira;
c) ver o espectáculo 4 COREÓGRAFOS no Teatro Camões: tinha visto uma das coreografias - Isolda, da Olga Roriz - há 19 anos (pois, sim, eu sei...) na Gulbenkian.
Não gosto nada de ballet clássico (poupem-me ao Lago dos Cisnes ou ao Quebra-Nozes). Ao invés, ter assinatura do Ballet Gulbenkian - na altura uma pedrada no charco da dança - foi dos hábitos culturais mais regulares e antigos que tive: desde os meus 16 anos (no ano...pois, deixem lá...), a preços absurdamente baixos, até ter sido extinto em 2005. Cada espectáculo me deixava a vogar no espaço durante uns tempos. Lembro-me como hoje de muitas das coreografias do Wellenkamp, lembro-me de movimentos precisos do Benvindo Fonseca ou da Bárbara Griggi.
E o Isolda tinha sido uma das coreografias que mais me marcou. Ontem voltei a vê-la com o frémito da ansiedade de antecipação mas também com o medo de quem "regressa onde foi feliz". E voltei a ficar suspensa dos figurinos barrocos (eu que sou pouco gongórica), da sensação de irmandade feminina (eu que abomino o feminismo), da impressão de tristeza de punhal (eu que não sou triste), dos movimentos sincopados. Só faltou o final apotéotico - na Gulbenkian a parede final revela-se numa parede de vidro que mostrava os jardins iluminados pela luz da lua.
A sensação de que tudo isto voltou a mexer comigo passados 19 anos deixou-me a pensar que não obstante ser essencial a abertura ao que novas coisas nos possam fazer sentir, é também muito bom o conforto inexplicável de saber quais as coisas que sempre nos fazem tocar as mesmas cordas cá dentro (e esta conclusão final aplica-se a uma série infindável de situações);
d) acabar a noite na Fábrica do Braço de Prata
Como se percebe mais ou menos pela foto é um armazém meio decadente na zona oriental de Lisboa com imensas salas em que ao mesmo tempo há concertos, livrarias, exposições, restaurantes, bares, etc. Ontem ainda deu para vermos duas performances de arte (assustadoras), para dançar uns chorinhos brasileiros e para comprar uns livros antigos daqueles que atraem pela capa e pelo tema e que depois vamos perceber que deviam lá ter ficado na estante.
É um sítio com uma "mística" muito própria, mesmo. Era o ideal para uma festa dÀc, garanto eu.
Quando alguém vier jantar a Lisboa.... ;-) vamos lá, boa? Boa.
(ln)
4 comentários:
Já ouvi muito falar no braço de prata. Por acaso gostava mesmo de lá ir.
É a sua cara, F.
ln
Sabe que os sábados com ensaios são muito bons. Há bolo e tudo!
Ainda outro dia estive a ver um programa com o principal responsável pelo projecto da Fábrica do braço de prata e fiquei com muita vontade de passar por la...e ficar, porque parecem muitos os motivos para tal.
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