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segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Casting para declamadores de poesia

O Teatro do Campo Alegre está à procura de declamadores de poesia para se juntarem ao grupo do ciclo Quintas de Leitura. O objectivo do casting para leitores de poesia é "descobrir novos talentos na leitura de poemas que possam vir a integrar o conjunto de recitadores associados a esta iniciativa, pelo que preparou um casting a realizar nos dias 1 e 2 de Outubro".

O prazo para inscrições termina a 29 de Setembro e todos os candidatos admitidos serão contactados via e-mail, para confirmar a hora e o dia do casting.

As inscrições devem ser enviadas para o email pvaz@tca-porto-pt indicando nome completo, data de nascimento, naturalidade e contacto telefónico.

Para o casting, deve levar-se um poema à escolha, para ler em frente ao júri - que acompanhará um outro poema seleccionado por João Gesta, organizador das "Quintas das Leituras", o programa de declamação do teatro que começa em 2010.

Informações adicionais podem ser pedidas à produtora Patrícia Vaz através do telefone 22 606 30 17.

(ln)

quinta-feira, 2 de julho de 2009

5 anos sem Sophia

Espero
Espero sempre por ti o dia inteiro,
Quando na praia sobe, de cinza e oiro,
O nevoeiro
E há em todas as coisas o agoiro
De uma fantástica vinda.


Sophia de Mello Breyner
(ln)

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Festival Silêncio


Com agradecimento ao Francisco, que descobriu que ia acontecer.


(ln)

domingo, 31 de maio de 2009

declaradamente para o fofinho do Sérgio

"Quem anda nos meus olhos
a querer salvar o mundo
com espadas de lágrimas?

És tu, D. Quixote, e vou matar-te.

Quem anda na minha sombra
a arrastar a armadura negra
do Cavaleiro da Resignação?

És tu, D. Quixote, e vou matar-te.

Quem anda na minh'alma
a querer estrangular gigantes
com mãos de adormecer lírios ?

És tu, D. Quixote, e vou matar-te.

Quem anda na minha Ira
a enterrar punhais de solidão
nos monstros dos Desvios Nevoentos?

És tu, D. Quixote, e vou matar-te.

Quem anda no meu sonho
a ressuscitar filhos mortos nos regaços,
para morrerem outra vez de fome?

És tu, D. Quixote, e vou matar-te.

Quem anda na minha voz,
a iludir-me de clangores de peleja
na cidade dos Inimigos Trocados?

És tu, D. Quixote, e vou matar-te.

Sim, matar-te
para nunca mais sentir na cara o frio de lâmina das tuas lágrimas.

E ficar diante da vida,
terrível e seco
de mãos nuas
- à espera de outras mãos de algum dia,
suadas da camaradagem do mundo novo."

José Gomes Ferreira


P.S.: Caro amigo, é também deste poeta a expressão-mote icónica do MOCAMFE, esses telúricos campos de férias onde te convenci a ir: "É probida a entrada a quem não andar espantado de existir".
Tenho a certeza que estás autorizadíssimo... :)

Um grande abraço
para o Sérgio
e para todos vós,
D. Quixotes das circunstâncias.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Vivemos de palavras

Já que a L. começou (EA é sempre EA), ficam duas outras letras de canções que me têm andado a bailar nos ouvidos nos últimos dias e que são dos mais maravilhados gritos de vida.

Vá, arrepiem-se.

NO TEU POEMA (José Luís Tinoco)

http://www.youtube.com/watch?v=hUxB2VDNe9Y

No teu poema
Existe um verso em branco e sem medida
Um corpo que respira, um céu aberto
Janela debruçada para a vida.
No teu poema
Existe a dor calada lá no fundo
O passo da coragem em casa escura
E aberta, uma varanda para o Mundo.

Existe a noite
O riso e a voz refeita à luz do dia
A festa da Senhora da Agonia
E o cansaço do corpo que adormece em cama fria.
Existe um rio
A sina de quem nasce fraco ou forte
O risco, a raiva, a luta de quem cai ou que resiste
Que vence ou adormece antes da morte.

No teu poema
Existe o grito e o eco da metralha
A dor que sei de cor mas não recito
E os sonos inquietos de quem falha.
No teu poema
Existe um cantochão alentejano
A rua e o pregão de uma varina
E um barco assoprado a todo o pano.

Existe a noite
O canto em vozes juntas, vozes certas
Canção de uma só letra e um só destino a embarcar
O cais da nova nau das descobertas.
Existe um rio
A sina de quem nasce fraco, ou forte
O risco, a raiva e a luta de quem cai ou que resiste
Que vence ou adormece antes da morte.

No teu poema
Existe a esperança acesa atrás do muro
Existe tudo mais que ainda me escapa
E um verso em branco à espera... do futuro


ESTRELA DA TARDE (Ary dos Santos)

http://www.youtube.com/watch?v=w3WYsdHhC-8

Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia

Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia
E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia
Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia

Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza

Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram
Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram

Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram

Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto

Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!

(ln)

Adeus

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.

in Miscelânea Poética (dÀc, FDUP Campo Alegre, 2000) e Mulheres ao Espelho (dÀc, FDUP Bragas, 2004)

quarta-feira, 25 de março de 2009

"INTERROGAÇÃO"

As promised. Sobre os inícios e os começos, as certezas ou a falta delas.

"INTERROGAÇÃO"

Não sei se isto é amor. Procuro o teu olhar,
Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo;
E apesar disso, crê! nunca pensei num lar
Onde fosses feliz, e eu feliz contigo.

Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito.
E nunca te escrevi nenhuns versos românticos.
Nem depois de acordar te procurei no leito
Como a esposa sensual do Cântico dos cânticos.

Se é amar-te não sei. Não sei se te idealizo
A tua cor sadia, o teu sorriso terno...
Mas sinto-me sorrir de ver esse sorriso
Que me penetra bem, como este sol de Inverno.

Passo contigo a tarde e sempre sem receio
Da luz crepuscular, que enerva, que provoca.
Eu não demoro a olhar na curva do teu seio
Nem me lembrei jamais de te beijar a boca.

Eu não sei se é amor. Será talvez começo...
Eu não sei que mudança a minha alma pressente...
Amor não sei se o é, mas sei que te estremeço,
Que adoecia talvez de te saber doente.

Camilo Pessanha, Clepsidra

terça-feira, 8 de julho de 2008

Porque

'Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.'


Sophia de Mello Breyner Andresen


(Inês)

domingo, 29 de junho de 2008

Acordos


(porque em casa da minha avó ainda não se tiram fotocópias - e não há 'disto' na internet...)


Posso combinar uma coisa com o senhor Pessoa:

ele que trate das suas pessoas, que as leve ao médico,

lhes dê de comer, e as meta na cama, às três,

sobretudo, e já agora às outras, se as houver,

que eu não me meto nisso. Pessoa,

basta-me a que tenho, e que já combinou

tudo com o Pessoa – mas o próprio,

de gabardine para não apanhar com a chuva

oblíqua no fato preto, e opiário no bolso

por causa do pagode marítimo.


Posso combinar outra coisa com o senhor Camões:

apanhe o avião para a Índia no terminal dos charters,

que são mais baratos; e veja se não fuma às escondidas,

que é proibido; e menos ainda ligue o telemóvel,

que interfere com os instrumentos de voo, mesmo

que precise muito de falar com a Natércia, ou com

a Leonor, ou com a Bárbara, ou qualquer outra das mil

e três que lhe infestam sonetos e canções. O

que eu quero dele é que me traga de Hong Kong (por onde

tem de passar a caminho de Macau) um Rolex

de imitação – no free-shop é mais barato.


E contigo, meu caro Pessanha,

quero combinar outra coisa: não me peças nada

para o Wenceslau. Deixa-o estar no Japão, que

está lá muito bem, e o caminho de volta

para a pátria não se recomenda a ninguém. E tu,

ópio à parte, ensina a nossa querida língua a uns

quantos chineses, mesmo que eles troquem os erres

pelos eles. No teu nome, Camilo, é que não

há troca possível. E se fores à gruta do Camões, leva

o piquenique: talvez não queijadas de Sintra

nem pastéis de nata, mas um frango de aviário

e batata frita (esquece o arroz, que é melhor

ao jantar, no chinês do costume).


Nuno Júdice